Reencarnação e Justiça ?
É conhecida a obstinação dos
espíritas em firmar sua posição sobre a doutrina da reencarnação, justificando-a
com o argumento de que cada um faz por merecer sua própria salvação. Allan
Kardec tinha um lema que foi colocado como epitáfio no seu túmulo na cidade de
Paris, França: naitre mourir renaitre encore et progresser sams cesse telle est
la loi, que pode ser traduzido da seguinte maneira: “nascer, morrer e progredir
sempre; esta é a lei”.
Assim, dentro do espiritismo, Deus jamais pode
perdoar alguém porque isso atrasaria o progresso espiritual da pessoa e a
justiça de Deus seria falha em não premiar cada pessoa pelo o que ela faz em seu
favor, por meio das obras de caridade. Um slogan bastante conhecido que norteia
este pensamento é “fora da caridade não existe salvação”. A expressão “progredir
sempre; esta é a lei” — a que se refere Allan Kardec — é a lei do progresso
irreprimível até a perfeição mediante repetidas reencarnações até se tornar “um
espírito puro”. Este ensino é fundamental dentro do espiritismo, que afirma que
o homem deve “alcançar a meta final por esforços próprios. Sem tal condição, a
justiça de Deus se faria falha. A justiça de Deus exige que todas as suas
criaturas atinjam o estado final de espíritos puros, igualando-os
todos”.
A justiça de Deus
Allan Kardec pergunta aos espíritos: “Em
que se funda a lei da reencarnação?”. E responde: “Na justiça de Deus e na
revelação; incessantemente repetimos...”.
Prossegue ele, afirmando: “A
doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas
existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia da justiça de Deus,
comum respeito aos homens de condição moral inferior, a única que pode explicar
o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de
resgatarmos os nossos erros por meio de novas provas. A razão assim nos diz, e é
o que os Espíritos nos ensinam”. 1
Como vemos, a reencarnação, segundo
Kardec, se justifica, pois “é a única que corresponde à idéia da justiça de
Deus...” E afirma ele: “é o que os Espíritos nos ensinam”. Entretanto, vejamos
uma situação em que esta suposta justiça de Deus não pode ser
consumada.
A reencarnação de pessoas e animais
Preliminarmente,
apontamos que os kardecistas não admitem o retrocesso dos espíritos ao corpo de
animal. Diz kardec: “A pluralidade das existências, segundo o espiritismo,
difere essencialmente da metempsicose, pois não admite aquele a encarnação da
alma humana nos corpos dos animais, mesmo como castigo. Os Espíritos ensinam que
a alma não retrograde, mas progride sempre”.2
Os animais não estão
distantes dos homens no campo da inteligência. Segundo o espiritismo, é até uma
ofensa chamar um animal de burro, porque o animal tira seu “princípio
inteligente” do mesmo “elemento inteligente universal”. É o que ensina Allan
Kardec. Ele pergunta e os espíritos respondem:
Allan Kardec: “606. Donde
tira os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de
alma de que são dotados?”.
Espíritos: “Do elemento inteligente
universal”.3
Allan Kardec: “597. Tendo os animais uma inteligência que
lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente
da matéria?”.
Espíritos: “Sim, e que sobrevive ao corpo”.4
Allan
Kardec: “600. Sobrevindo a morte do corpo, a alma do animal fica errante, como a
do homem?”.
Espíritos: “Fica numa espécie de erraticidade, pois não está
unida a um corpo...”.5
Allan Kardec: “601. Os animais estão sujeitos,
como o homem, a uma lei progressiva?”.
Espíritos: “Sim, e daí vem que nos
mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são,
dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao
homem, e se lhe acham submetidos, sendo para estes servidores inteligentes”.6
Allan Kardec: “603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a
Deus?”.
Espíritos: “Não. Para os animais, o homem é um deus, como outrora
os Espíritos eram deuses para o homem”.7
Allan Kardec: “604. Mesmo
aperfeiçoados nos mundos superiores, desde que os animais são sempre inferiores
ao homem, segue-se que Deus teria criado seres intelectuais perpetuamente
votados à inferioridade. Isto parece em desacordo com a unidade de vistas e de
progresso que se notam em todas as Suas obras?”.
Espíritos: “Tudo se
encadeia na Natureza, por elos que ainda estais longe de perceber; as coisas
aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem não pode
compreender no seu estado atual”.8 (grifo do autor).
Allan Kardec:
“604-a. Assim, a inteligência é uma propriedade comum, um ponto de contato entre
a alma dos animais e do homem?”.
Espíritos: “Sim. Mas os animais apenas
têm a inteligência da vida material. No homem a inteligência produz a vida
moral”.9
Diante do exposto, perguntamos: “Como fica, então, a ‘idéia da
justiça de Deus’, reclamada pelos espíritas de igualdade entre todos os seres
criados por Deus, se ela não se dá com respeito aos animais, que serão
perpetuamente destinados à inferioridade em relação aos homens, sendo o homem
para os animais um deus?”
Os espíritas não têm resposta que satisfaça a
esta indagação e só podem admitir que “as coisas aparentemente mais disparatadas
têm pontos de contato que o homem não pode compreender no seu estado
atual”.
O ensino dos espíritos
O codificador do espiritismo
ressalta que a doutrina da reencarnação, o ensino mais importante e atraente dos
espíritas, é resultado do ensino dos espíritos por ele recebido e exposto no
Livro dos Espíritos, considerado “a Bíblia” dos espíritas. São 1.016 perguntas
formuladas por Allan Kardec com respostas supostamente dadas pelos espíritos.
Assim, o ensino da reencarnação, segundo Kardec, foi dado pelos
espíritos.
Escreve Kardec: “Não somente por que ela nos veio dos
Espíritos, mas porque nos parece a mais lógica e a única que resolve as questões
até então insolúveis. Que ela nos viesse de um simples mortal, a adotaríamos da
mesma maneira, não hesitando em renunciar as nossas próprias idéias. Do mesmo
modo, nós a teríamos repelido, embora viesse dos Espíritos se nos parecesse
contrária à razão, como repelimos tantas outras”.10
O caráter essencial
da doutrina espírita
Allan Kardec estabelece, como se pode identificar,
uma doutrina dada pelos espíritos. Diz ele: “O caráter essencial desta doutrina,
a condição de sua existência, está na generalidade e concordância do ensino;
donde resulta que todo princípio que não recebeu a consagração do assentimento
da generalidade não pode ser considerado parte integrante desta mesma doutrina,
mas simples opinião isolada, cuja responsabilidade o espiritismo não assume”11
(grifo do autor).
Mas o grande problema para os espíritas, confessado por
Allan Kardec, é que não se pode identificar o ensino unânime dos espíritos sobre
a reencarnação. Diz ele: “Seria o caso, talvez, de examinar-se porque todos os
Espíritos não parecem de acordo sobre este ponto”.12 E mais: “De todas as
contradições que se observam nas comunicações dos Espíritos, uma das mais
chocantes é aquela relativa à reencarnação, como se explica que nem todos os
Espíritos a ensinam?” 3 (grifo do autor).
Espíritas versus
Espíritas
Notável é que não exista identidade doutrinária entre os
espíritas anglo-saxões (os de fala inglesa, principalmente) e os espíritas de
origem latina (línguas francesa, portuguesa, espanhola etc.). Enquanto os
espíritas de origem latina admitem a doutrina reencarnacionista, o mesmo não
acontece com os de origem inglesa, que negam peremptoriamente esta doutrina.
Dizem que, na verdade, a doutrina da reencarnação ensinada por Allan Kardec no
Livro dos Espíritos não é dos espíritos, mas do próprio Allan Kardec.
Em
verdade, não há dúvidas a respeito desta invenção, pois o próprio Allan Kardec
foi muito claro ao declarar que a doutrina da reencarnação seria descartada se
não pudesse aceitá-la racionalmente: “Que ela nos viesse de um simples mortal, e
a adotaríamos da mesma maneira, não hesitando em renunciar as nossas próprias
idéias. Do mesmo modo, nós a teríamos repelido, embora viesse dos Espíritos se
nos parecesse contrária à razão, como repelimos tantas outras”.
Isso
mostra que a mais divulgada e atraente doutrina espírita realmente não é ensino
dos espíritos, mas ensino do seu codificador, uma vez que há explícita falta de
generalidade e concordância por parte dos espíritos.
Cai por terra,
então, a doutrina mais importante do espiritismo pelas seguintes
razões:
1. A alegada justiça de Deus não existe entre todas as criaturas,
homens e animais, pois sempre persiste a diferença entre as duas criações, sendo
o homem um deus para os animais.
2. A reencarnação, na verdade, não é de
origem dos espíritos, mas do próprio Allan Kardec.
Redenção pelo sangue
de Cristo
Os espíritas se revoltam quando ouvem falar da redenção por
meio de Cristo mediante sua morte na cruz. Repelem-na ostensivamente. O
substituto de Allan Kardec na hierarquia espírita, Leon Denis, se pronuncia
acintosamente sobre o ensino bíblico da nossa redenção por Cristo nas seguintes
palavras: “Não, a missão de Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes
da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém.
Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. É o
que os espíritos, aos milhares, afirmam em todos os pontos do
mundo”.14
Tal declaração blasfema não invalida o ensino bíblico da nossa
redenção por Cristo mediante sua morte na cruz. Tenhamos presentes as palavras
de Paulo sobre a falibilidade humana ante a verdade de Deus exarada na
Bíblia:
“Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade
aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma; sempre seja Deus
verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas
justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado” (Rm 3.3,4; grifo do
autor).
A Bíblia apresenta os seguintes pontos sobre a nossa redenção por
Cristo, contrariando a posição doutrinária espírita:
1. O evangelho
verdadeiro foi resumido por Paulo nos seguintes fatos: “Porque primeiramente vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras” (1Co 15.3,4).
Estas palavras de Paulo são a repetição da
profecia de Isaías com relação à obra redentora de Jesus: “Verdadeiramente ele
tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa
das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo
que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is
53.4,5). Está é a mensagem central cristã.
2. Nossa redenção por Cristo é
a medula do evangelho: “Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas
para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.28).
3. O
texto de João 3.16 é considerado a Bíblia em miniatura: “Porque Deus amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
4. Negar a redenção por
Cristo é estar sob inspiração satânica: “Desde então começou Jesus a mostrar aos
seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos
anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e
ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-o de parte, começou a
repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá
isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me
serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as
que são dos homens” (Mt 16.21-23).
Seria bom que os espíritas se
mostrassem mais humildes e deixassem os ensinos errôneos que seguem (1Tm 4.1)
para aceitar o ensino bíblico da nossa redenção por Cristo. Se Cristo pagou
nossa redenção na cruz, por que a insistência dos espíritas em querer comprar
sua redenção mediante boas obras por meio de sucessivas reencarnações? Na cruz,
Jesus bradou: “Tudo está consumado!” (Jo 19.30).
O apóstolo Paulo foi
enfático neste particular, dizendo: “Porque pela graça sois salvos, por meio da
fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef
2.8-10).
Notas:
1 O livro dos espíritos. Allan Kardec – Obras
Completas. Opus Editora Ltda, p.84, 2ª ed., 1985.
2 O que é o espiritismo.
Allan Kardec – Obras Completas. Opus Editora Ltda, p.300, 2ª ed., 1985.
3
Ibid., p. 167.
4 Ibid., p. 166.
5 Ibid.
6 Ibid.
7 Ibid.
8
Ibid.
9 Ibid.
10 Ibid., p. 97.
11 A gênese. Allan Kardec – Obras
Completas. Opus Editora Ltda, p.903, 2ª ed., 1985.
12 O livro dos espíritos.
Allan Kardec – Obras Completas. Opus Editora Ltda, p.94, 2ª ed., 1985.
13 O
livro dos médiuns. Allan Kardec – Obras Completas. Opus Editora Ltda, p.496, 2ª
ed., 1985.
14 Cristianismo e espiritismo, p. 85, 7ª ed.
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